617256127 "Entra amigo, entra!"
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  • Presença e Amizade

"Entra amigo, entra!"

Atualizado: 4 de jul. de 2023

de Jose Francisco, casa Punto Corazon do Peru, 2020


Senhor Ernesto vivia sozinho em um quarto pequeno e tinha sua mobilidade comprometida devido a um derrame cerebral que teve a alguns anos atrás. Ele carregava consigo uma história de vida bem delicada. Eu o conheci justamente em meu primeiro dia aqui em Lima e me lembro como se fosse ontem da sua alegria por receber um brasileiro em sua humilde residência. Não foi preciso muito tempo para formamos uma grande amizade. Desde o início sua história me comoveu muito, especialmente pelo sofrimento que demonstrava em virtude de uma relação difícil com seus familiares. Com o passar dos meses foi possível conhecer um pouco mais das razões que levavam a este conflito familiar, e compreender que a nós cabia somente confiar esta situação a Deus e buscar ser amigos de ambas as partes da família, na esperança de uma futura reconciliação.

Em nossos muitos encontros ele sempre demonstrou uma grande sede de Deus, uma grande e profunda alegria pelo oportunidade de participar da Missa e de receber a Jesus na Eucaristia. Não foram poucas as vezes que, com lágrimas nos olhos ele nos agradecia por levá-lo a igreja em sua cadeira de rodas. Estas situações que se repetiam várias vezes, traziam ao meu coração muita alegria e ânimo para seguir firme com a missão.

Algumas semanas atrás fui convidado a passar alguns dias na outra casa de voluntários, em La Ensenada, ao norte de Lima, para apoiar os missionários que lá estão. São eles: José, argentino, 22 anos; Marion, francesa, 29 anos; e Caroline, brasileira, 27 anos. Nos dias em que estive aí, recebi por telefone a notícia de que meu amigo havia falecido na noite anterior, em virtude de várias complicações após um infarto. Minhas irmãs de comunidade me contavam como tudo havia acontecido, de como haviam estado ao seu lado nos últimos momentos e, de como havia sido possível com ajuda de um sacerdote amigo, que o nosso amigo recebesse os Sacramentos, horas antes de seu falecimento. Além disso, houve um gesto de reconciliação entre ele e seus familiares, um verdadeiro milagre. Ao receber a notícia me vi um pouco perdido e envolvido por uma maré de emoções. É muito difícil saber da morte de um amigo, ainda mais quando não se é possível despedir- se dele como nos gostaria. Depois de rezar e refletir sobre toda aquela situação e de tudo que havia vivido na presença desse meu amigo, senti meu coração cheio de paz ao me dar conta de algo. Tenho a firme esperança de que esse meu amigo não partiu para nunca mais vê-lo, mas sim que algum dia ele, junto com tantos outros, abrirá a porta do céu para mim, com um sorriso, assim como tantas vezes o fez com a porta de sua humilde residência, dizendo: "Pase amiguito, pase..."

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