Vocês sabem que com minha profissão de arquiteta, é inevitável não deter-me em determinados detalhes que tem a ver com as casas onde as pessoas moram. Quando entro nas casas dos nossos amigos do bairro, me perdoe, mas observo e me recordo as palavras dos meus professores da faculdade, me falando dos espaços e dos limites que os dividem.
De como as características de um espaço físico podem preservar a intimidade e, ao contrário, convidar ao encontro. Não quero aborrecer vocês com estas coisas, somente partilhar o que desperta em mim o fato que a maioria das casas dos nossos amigos não possuem portas.
Um espaço aberto ou fechado cria um limite. Uma porta é um limite. Uma porta nos diz: "até aqui você pode entrar." Na vida e no coração de nossos amigos do bairro, há um paralelo marcante com o espaço simples e pobre em que vivem. Em seu coração, eles têm uma única porta que diz “até aqui você pode entrar” e uma vez que eles abrem, eles dão permissão para você entrar em todos os quartos. E essa doação sem limites do coração acarreta uma pequena morte para eles e a consciência de que, uma vez que abrem a porta, aceitam a alegria, mas também a dor, de amar você.
Judith, voluntária Argentina na Casa Sagrada Família, Bahia, Brasil
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